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      Inquirições de D. Afonso III, com data de 1258.

Em 1258, nas inquirições de D. Afonso III, esta pequena povoação é designada por “ Valle Guterri”, segundo trecho extraído do site Trilhos Serranos do professor Abílio Pereira de Carvalho..

.Johannes martini de Covelias juratus dixit, quod maria Veegas dse Covelias testavit eclesia de Castro duas Leyras forarias Regis de jugata in termino de Covelias, et una jacet in Valle Guterri et alia jacet in fine de Rozadas (...)" 

Sobre a origem do nome “ Val de Cuterra”, encontrou-se a seguinte nota.
     Fonte de Cuterres foi, certamente, o mesmo que Fonte de Guterre, antropónimos de origem basca que se usou muito entre nós do séc. VIII-IX ao XII-XIII: 919 Gutierre DC22;959 Valle de Guterri   < ano de 1258 -- IS935 e 937, hoje, Vale de Cuterre.    
Fonte: Beira  Alta Vol. 43 pág. 370.

Póvoa de Vale de Cuterra.

     Antigo povoado, nos limites do Custilhão, localizado numa área compreendida entre o atual  cruzamento da EN2  com a EN 321 que liga Castro Daire a Cinfães, até as proximidades da casa da guarda florestal, junto ao nó de acesso a A24, saída N7,  Castro Daire Norte. A distância entre o povoado e a aldeia do Custilhão é de aproximadamente, 600 m em linha reta. 

     Não chegou, até aos dias atuais, muita  informação sobre a sua antiga localização. É possível observar em alguns locais a existência de uns poucos muros de construção mais cuidada,  com altura razoável, próprio de casas de morada ou alcarias e não de muros de meação entre propriedades.
Esse desaparecimento pode estar relacionado com um hábito praticado pelos antigos de transferirem, de um local para outro, casas inteiras, pedra por pedra já aparelhadas, através de transporte animal e sem necessidade de mão de obra especializada

     Documentos existentes nos fundos do ADVIS- Arquivo Distrital de Viseu, com datas extremas entre 1687 e 1758, informam da existência de um pequeno aglomerado populacional com cerca de 30 habitantes, pouco mais ou menos. Sabemos que no ano de 1731, existia 8 irmãos (chefes de família) pertencentes a irmandade da Misericórdia de Castro Daire. (Misericórdia de Castro Daire de Abílio Pereira de Carvalho- pág.ª 64).

Pelos registos de batismo, casamento e óbitos sabemos que muitos desses moradores eram naturais deste povoado, outros provenientes de aldeias próximas como;  Mouramorta, Monteiras e ainda do Custilhão.

O último documento conhecido respeitante a Val de Cuterra, é um registo de batismo datado de 14 de julho de 1758, de uma Josefa, sobrinha do
Padre André Pereira, também conhecido como Padre Andre do Crestilhão.

     A partir desta data, não é encontrado mais nenhuma referencia a esta localidade, passando estas famílias,  os “Ferreira”,  os “Carvalho”,  os “Fernandes Pia” e seus descendentes, a residirem no povo do Custilhão, tornando-se a família mais numerosa; a família “Ferreira de Carvalho”.
 
     Os “Ferreira de Carvalho”, no Custilhão, são grandes proprietários de bocados ou fazendas agrícolas, ao mesmo nível do Barão de Castro Daire, das Freiras do Convento de Arouca, de João de Melo da Casa Brasonada de Farejinhas ou de Antonio de Lemos Pacheco de Aguilar.
Dos quatro padres naturais do Custilhão, três pertencem a esta família.
 
     É no seio desta família, que em 1865 nasce o sobrenome “ Cesar Doria” ou “Ferreira Cesar Dória”, quando um Joaquim (1834-1872) vai estudar Direito na Universidade de Coimbra. Mais tarde, será o Padre Joaquim Ferreira Cesar Doria, filho de João Ferreira ou João Ferreira de Carvalho (1793-1886) e de Victorina Silva (1801-1881),  abastados proprietários desta aldeia.

Póvoa de Vale de Cuterra. - Caminhos e estradas que passavam á época junto a esta localidade:
     Antiga Estrada Romana,
     Estrada Real n.º 7 e
     Caminho Interior de Santiago.

     A Póvoa de Val de Cuterra, esta situada nas proximidades da Serra de Montemuro distante  5 km de Castro Daire que é sede do concelho, e a meio caminho entre o litoral lusitano e as terras de Espanha. Importante região de convergência, localizada “num ponto de cruzamento e passagem de vias multiseculares”, servindo de ligação entre Lamego, ao Norte, e Viseu, ao Sul, “as duas principais cidades e cabeças de diocese desde os primeiros séculos do cristianismo.
 
     Daí, possivelmente, sua propensão muito cedo ao comércio. Parece ter abrigado no século XVI uma considerável comunidade de cristãos-novos, envolvidos estes com o comércio e negócios da vila.
 
     Prova da influência do núcleo dos neoconversos naquelas terras talvez seja as isenções de impostos e os favores concedidos pelo rei D. Manoel, o Venturoso, no início do século XVI à comunidade de cristãos-novos.
Notas extraídas do estudo de Ângelo Adriano Faria de Assis “Os infortúnios e heresias do
cristão-novo Diogo Nunes,” Senhor de Engenho da Paraíba Quinhentista nas Malhas da Inquisição”.

     Ao longo destas vias de comunicação, várias povoações florescem e crescem devido as necessidades de apoio aos peregrinos, andantes e outros viajantes e mais tarde ao serviço das diligencias da mala posta, responsáveis pelo transporte de passageiros e mercadorias.
 
Almocrevaria, Correio Mor e Mala Posta
     Uma das possibilidades da existência deste pequeno povoado de Val de Cuterra dentro dos limites do povo do Custilhão, mas desviado do seu núcleo habitacional, é a sua posição geostratégica, a meia distancia entre as cidades de Lamego e Viseu e no eixo da vários caminhos e carreiros que o ligavam á algumas aldeias da serra de Montemuro, local ideal para a atividade de almocrevaria.
 
     Os almocreves, alguns além de agricultores, tinham  também “por ofício conduzir bestas de carga” (Figueiredo, 189) e transportar “mercadorias, recados, pessoas”, estabelecendo com certa regularidade as relações de povoado a povoado, tornando-se personagem essencial á vida das comunidades rurais.  Este comercio se fazia sobre cavalgaduras, que carregavam de 6  a 8 arrobas cada uma, por 4 a 5 léguas por dia. (Arroba=12 kg e Légua= 5 km).

     Por estas vias de comunicação existentes e por este povoado de Val de Cuterra, também passava o serviço de correio público, utilizado pela Coroa e por particulares e criado por D. Manuel I de Portugal, com a figura do Correio-mor, sendo esta personagem responsável pela organização e funcionamento deste correio publico entre os anos de 1520 e 1797.

     Em 1798, após a extinção do Correio-mor, é criado o serviço de Mala-Posta, serviço público de transporte de correspondência, passageiros e mercadoria.

Este transporte encerrou por volta do ano de 1800, devido as invasões francesas, retomando algumas décadas mais tarde, á partir de 1853.

     
A população da Póvoa de Val de Cuterra, migra para o povo do Custilhão: Possíveis causas deste êxodo.
     Em baixo, colocou-se um conjunto de fatos ocorridos por todo o país, entre 1755 a 1834 , nomeadamente na região do Douro, muito próximo desta povoação, 

1755 - Terramoto de Lisboa, ocorreu em 1 de novembro, onde o Marquês de Pombal toma as rédeas do poder. Os seus efeitos foram  sentidos um pouco por toda a parte, com um impacto político e socioeconómico em todo o país.
1756 -  Em Portugal, é criada a Junta do Comércio e da Companhia das Vinhas do Alto Douro. Esta demarcação da região para a produção do vinho do Porto é a primeira tentativa de um controle e qualidade do vinho, de mal agrado para os vitivinicultores, provocou  diversos motins que foram reprimidos com derramamento de sangue
1761 -  Em Portugal é abolida a escravatura e fundado o Real Colégio dos Nobres. l Também a Espanha e a França começam a expulsar os jesuítas.
762 - Na sequência da Guerra dos Sete Anos ou Guerra Fantástica que assolou a Europa devido ao conflito que opôs a Inglaterra à França, a Espanha assinou com a França o "Pacto de Família".
1773 - O Marquês de Pombal termina com a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos
1789 - A Revolução, propriamente dita, estalou a 14 de julho de 1789, com tomada da Bastilha pelo povo
1790 -  Revolução francesa: extinção dos direitos feudais; os bens do clero são postos à venda;; Luís XVI prepara a fuga.
1791: Revolução francesa: fuga e prisão de Luís XVI.
1797 - Introdução do papel-moeda em Portugal.
1806 - Bloqueio Continental imposto por Napoleão.
1807 - Primeira invasão francesa comandada pelo general Junot.
1807 - O príncipe Regente, D. João (VI), embarca para se dirigir para o Brasil.
1807 - Uma divisão espanhola, sob as ordens do general Taranco, capitão-general da Galiza, ocupa o Porto.
1808 - Junot é nomeado governador-geral de Portugal. Proclamação de Junot: a Casa de Bragança deixa de governar em Portugal. Todo o território * português passa a ser governado em nome de Napoleão.
1808 - Declaração de Guerra de Portugal contra a França, decidida pelo Príncipe Regente no Rio de Janeiro.
1808 - Em 21-junho, A força de Loison, tendo passado o rio Douro em Peso da Régua, é atacada por membros das Milícias e das Ordenanças de Trás-os-Montes, nos Padrões de Teixeira, perto de Mesão Frio. O ataque fez com que a força que dirigia atravessasse precipitadamente o rio e recuasse para Lamego, sendo obrigado a regressar a Almeida.
1808 -  Loison, que de Almeida vai até Lamego, toma a estrada para Viseu e daqui segue para Mangualde, Fornos, Celorico e Pinhel,  enquanto em 1810 os franceses vêm de Almeida, passam por Celorico, chegam a Viseu e continuam, por Mortágua, até ao Buçaco.
1828-1834 - A Guerra Civil Portuguesa, também conhecida como Guerras Liberais, Guerra Miguelista ou Guerra dos Dois Irmãos, foi a guerra civil travada em Portugal entre liberais constitucionalistas e absolutistas sobre a sucessão real, que durou de 1828 a 1834.

     Todas as informações contidas nestas paginas do povo do Custilhão,  foram obtidas á partir de consultas efetuadas em documentos existentes nos arquivos regionais, distritais e nacionais como ADVIS e Torre do Tombo e também em sites genealógicos como https://geneall.net/pt/ , https://www.familysearch.org/pt/ e outros. Sempre que possível, a citação da informação terá o endereço ou o arquivo para consulta on line.

     Caso encontre alguma incorreção ou queira prestar uma informação, por favor entre em contato.

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